terça-feira, 18 de novembro de 2014

Corrompidos e corruptores são gêmeos siameses; acordo da CPI da Petrobras para deixar empreiteiras fora da investigação mostra força do dinheiro


      Faltavam seis meses para a eleição. Numa reunião a portas fechadas em junho de 2014, parlamentares governistas e oposicionistas que integram a CPI da Petrobras decidiram não quebrar sigilos nem convocar executivos de empreiteiras suspeitas de contratos superfaturados e licitações fraudulentas.
   Imaginaram que provocar turbulência num setor essencial para o financiamento de campanha seria uma temeridade. Não foi à toa que a reunião transcorreu a portas fechadas.
     As principais empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, que apura irregularidades em contratos que passam de R$ 50 bilhões e lavagem de dinheiro de cerca de R$ 10 bilhões, doaram R$ 220 milhões a candidatos na eleição passada.
    Especialistas calculam que uma campanha bem-sucedida para deputado federal tenha custado cerca de R$ 5 milhões. Só com o dinheiro que doaram legalmente as empreiteiras podem ter permitido a eleição de quase 50 deputados simpáticos às suas causas.
    Como uma CPI pode investigar a corrupção na Petrobras sem investigar os corruptores? Políticos são descritos muitas vezes como capazes de tirar as meias sem descalçar os sapatos. Não se pode negar a capacidade que têm de surpreender mesmo os mais escaldados.
   De acordo com advogados com trânsito no Supremo Tribunal Federal, pelo menos 70 políticos foram citados pelos operadores do esquema na Petrobras que negociaram ou negociam delação premiada.
    O nível de choque político se ampliará a níveis históricos, pode-se imaginar.
   Ou, para evitar que todas as forças sejam arrastadas pela força da Lava Jato, não é difícil suspeitar da possibilidade de um acordo para limitar os danos o máximo possível.
    Com a tradição de impunidade das décadas passadas, já será alguma coisa se dez ou 20 políticos e empreiteiros forem de fatos presos. No mensalão, foram levados a julgamento 40 pessoas. Em tese, a Lava Jato tem potencial de levantar provas efetivas para que sejam levadas a julgamento dois ou três vezes mais pessoas do que no caso do mensalão.
    É certo que as CPIs são mais instrumentos de política do que de investigação. Ministério Público e Polícia Federal têm mais capacidade técnica e ferramentas de investigação do que os parlamentares. Depoimentos em CPIs beiram, em geral, ao patético. São por vezes constrangedores os comportamentos dos parlamentares, demonstrando despreparo e histrionismo.
     Mas, se há uma CPI em curso para investigar a Petrobras, seria justo esperar que pegasse corrompidos e corruptores, porque um não existe sem o outro. São gêmeos siameses. Alimentam-se mutuamente. Só aplicam a lei salomônica da divisão quando o butim está na mesa.

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