Já imaginou como estariam as redes sociais se alguém descobrisse um post dos PMs do Pavão-Pavãozinho que os vinculasse mesmo que indireta e sentimentalmente a algum traficante ou falasse em ódio após a morte de um deles? Pois é. Seria um Deus-nos-acuda – quer dizer: um Capeta-nos-guie! – nas páginas dos jornais e da militância da desmilitarização.
Mas agora é do outro lado.
Em 18 de janeiro, um dia após uma troca de tiros no Pavão-Pavãozinho resultar na morte de Patrick Costa dos Santos, o Cachorrão, de 25 anos – que tinha duas condenações por tráfico e obteve livramento condicional em outubro de 2012 -, o dançarino do “Esquenta” Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG e encontrado morto nesta semana na mesma favela que os jornalistas insistem em chamar de “pacificada”, postou no Facebook:
PPG TA DE LUTO, E OS AMIGOS CHEIO DE ODIO NA VEIA, MAS TARDE O BICO VAI FAZER BARULHO….
#SAUDADES ETERNAS CACHORRAO !
Passando a limpo a tradução de um policial civil:
- “PPG” é a dita “comunidade” Pavão, Pavãozinho e Galo.
- “Bicos” são fuzis de uso restrito das forças armadas, de grosso calibre (7,62mm e 556mm) e altíssima letalidade, como COLT AR 15, M-16, AK-47, G3 e outros.
- “Os amigos” são os integrantes das quadrilhas que traficam drogas, cometem homicídios, sequestros, roubos e crimes variados.
- “Fazer barulho” é efetuar centenas de disparos, aterrorizando a população ordeira.
- “Cheio de ódio na veia” eu preciso explicar? Não é decerto o sentimento lindo de “miguxos” que querem obedecer a lei naquela noite e nos dias (meses e anos…) seguintes.
Muita calma nessa hora. Aqui não se vai culpar ninguém pela morte de Douglas, muito menos ele mesmo, e que dirá justificá-la, sem que as investigações estejam concluídas. Mas quando morre um morador da favela, ele é logo tratado como um santo inocente vítima de um PM criminoso – na verdade, de toda a PM criminosa que deveria sumir da face da Terra -, de modo que é preciso trazer à luz as informações de todos os lados, sem ceder à polícia do pensamento. Por mais humano que seja sentir saudade de alguém que escolheu o caminho errado, falar publicamente dos “amigos” que vão dar tiros de fuzil em função de sua morte, no momento mesmo em que se revela o luto e a saudade, faz parecer que não se julga a escolha pelo crime e o comportamento dos criminosos coisas assim muito erradas, não é mesmo? Pelo menos a intimidade com os traficantes resta evidente – e é um dado a mais a ser observado.
Por Felipe Moura Brasil
http://veja.abril.com.br/
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