sábado, 9 de abril de 2011

Em meio à tragédia que se abateu sobre a escola Municipal Tasso da Silveira no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, caos informativo e notícias desencontradas.

As manchetes dos principais veículos de imprensa destoavam. Não se sabia o número de vítimas e houve ainda grande especulação até mesmo sobre a motivação do assassino, enquanto as redes de TV e jornais buscavam os melhores ângulos para mostrar de forma mais crua a tragédia. Sangue, choro e desespero foram mostrados incansavelmente pela grande mídia, cada uma tentando ir mais além, numa competição que beira a desumanidade.

Em pleno dia do jornalista, o que vimos foram estes dando palpites, chutes, repassando a notícia sem qualquer apuração, pior, sem nenhuma responsabilidade.

A comparação feita por muitos com Columbine, escola dos EUA onde 15 pessoas foram mortas em 1999 (incluindo os dois responsáveis pelo massacre), funciona como paralelo não só pelo evento de similar mortandade, mas também pela cobertura midiática inconseqüente. Nos EUA os culpados foram logo encontrados: Jogos violentos de videogame.Os dois rapazes responsáveis pelos massacres jogavam Counter Strike. Estava resolvido.
Tudo sem grandes questionamentos sobre a sociedade em si, sobre o modelo de ensino e mesmo sobre o irrestrito porte de armas. Nos EUA as chacinas se repetem e, da mesma forma, pouco é questionado sobre os reais motivos, sobre a estrutura da sociedade e sobre algo que hoje finalmente vem sendo tratado como um problema generalizado, o bullying.
Prática comum e que muitos pensavam restrita aos EUA, começou a ser vista mais profundamente no Brasil depois de vários casos de violência nos colégios do país. Mas a prática foi tomada como um fim em si mesmo, não como o reflexo de uma sociedade doente.
Além disso, os debates fundamentais não serão feitos: de que forma a lógica da Educação brasileira estimula e dá base para que situações assim ocorram? Como se dá e como se pode evitar a violência nas escolas? De que forma a valorização dos professores e o aperfeiçoamento das escolas podem modificar essa lógica?
Sim, porque esse não é um caso isolado, é apenas o mais chocante das diárias manifestações, nas escolas, da violência social como um todo. Mais: por que tantas armas nas mãos das pessoas? Por que fábricas de armas patrocinam campanhas eleitorais? De que forma a própria mídia estimula a resolução violenta e individual dos conflitos sociais?
Em Realengo, o atentado provocou 11 vítimas fatais (nove meninas, um menino – com idades entre 12 e 14 anos – além do atirador) e outras 13 pessoas ficaram feridas, mas até se chegar a este número a mídia teorizou 17 mortos, 13 mortos, cada site de veículo noticioso chutava o número que melhor lhes parecia. O número de feridos variava igualmente, passando dos 20 para alguns veículos. A velocidade da internet atropelou o jornalismo. Na tentativa de serem mais rápidos que a concorrência, jogavam notícias nos portais sem qualquer confirmação.
Quanto mais sensacionalista a cobertura, melhor. E sucessivas "teses" foram levantadas pela mídia, cada uma sendo desmentida com o passar do dia. O objetivo era o da novelização da tragédia, a cada minuto, um novo capítulo.
Na TV, assumiram que o assassino, chamado Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, era ateu. No Uol, informam que, segundo sua irmã, ele seria muçulmano (apesar de, em sua carta de suicídio, se mostrar claramente cristão). Durante toda a manhã estava aberta a temporada de construção de estereótipos.
A grande mídia deu amplo destaque também ao fato dele ser supostamente portador de HIV, como se, com isso, tivessem encontrado o motivo para o massacre, mesmo antes de ter conhecimento sobre o conteúdo da carta que ele havia deixado e que só a polícia tinha noção do conteúdo.
Emissoras de rádio e TV e portais de grandes grupos da mídia partem para uma cobertura sensacionalista do fato, entrevistando pais e mães (de preferência estas) desesperados  para conquistarem audiência  e aumentarem sua meta. 
Mas a exposição sensacionalista de um fato, sua transformação em espetáculo midiático, pode estimular a reprodução dos fatos, como ocorre nos Estados Unidos . Nas primeiras horas após o ataque cada veículo informava a seu bel prazer sobre se Wellington seria ex-aluno, pai de aluno ou apenas um transeunte transtornado. A sensação era a de que chutavam, esperando ter a sorte de acertar e dar o furo. Um verdadeiro show de sensacionalismo e desrespeito, coroado pelas tentativas de espremer o máximo de drama das vítimas, de pais e crianças que estiveram presentes ou próximos.
Ao invés do mínimo de respeito pelas vítimas, o jornalismo brasileiro deu um show de irresponsabilidade.
Sobrou até para a internet. Se religião, fundamentalismo e terrorismo islâmico soariam pesado demais para o público tupiniquim (já basta terem importado dos EUA o paralelo com Columbine), a solução foi culpar a internet, pois o responsável pelo massacre supostamente era uma pessoa isolada e que passava muitas horas na internet.
Mas logo, a mídia terá outro alvo, outro assunto para analisar profundamente em todos os horários possíveis.

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